Menor bebê de UTI em Petrolina pesa apenas 550 gramas
Na
UTI do hospital público, muitas mães esperam boas notícias: que os filhos
consigam enfrentar tão dura travessia para permanecer neste mundo
Mães
adolescentes e bebês prematuros – este é um drama comum em maternidades de todo
o Brasil. As deficiências do sistema de saúde
tornam o quadro ainda mais grave. A dedicação das famílias e dos médicos muda
tudo no limite da vida.
Petrolina, vale do Rio São Francisco,
alto sertão de Pernambuco, é o lugar da fartura. A maior parte das mangas e das
uvas que o Brasil exporta sai da cidade. Essa riqueza da terra não significa
riqueza em toda extensão da palavra. Debaixo do céu de nuvens miúdas e bem
acabadas de feição, o sertão se estende sem chuva que se derrame. A mata cinza
e seca da caatinga guarda os últimos vestígios da vida.
O braço minúsculo é da Roberta, a menor criança desta UTI
neonatal. Ela tem 15 dias e pesa apenas 550 gramas. “O médico não deu
esperanças. Ele falou mais de uma vez que era um bebê de risco. Eu coloquei nas
mãos de Deus. Deus sabe o que fazer. Deus sabe se dá a vida para ela ou então
se ele a leva”, comenta Ariane Dias, mãe de Roberta.
“São bebês muito prematuros, que não estavam preparados para vir
ao nosso mundo. O pulmãozinho é muito verde e o intestino é muito verde. Quando
melhora a parte pulmonar, piora a infecção. Muitas dessas crianças que estão
aqui abaixo de um quilo não vão conseguir viver, infelizmente”, afirma o médico
Rossini Lacerda Júnior, coordenador do berçário do hospital.
Angélica tem três meses e só agora ela está pesando 1,3 quilos.
Roberta nasceu com 550 gramas. Cícero, que está com dois meses, está pesando
855 gramas. Outro bebê nasceu com 740 gramas. Ele ainda não tem nome. Por que
nascem tantos bebês prematuros?
“Muitas são adolescentes e terminam não fazendo um pré-natal
adequado. O próprio organismo dela não está preparado para suportar uma
gravidez. São crianças ainda adolescentes, na fase inicial da vida, e não têm o
corpo preparado para ter uma gravidez adequada”, acrescenta o médico Rossini
Lacerda Júnior.
Encontrar mães adolescentes em Petrolina é muito fácil. É só
parar a primeira bicicleta que passa pela estrada. “O bebê tem 1 ano e dois
meses. Eu tenho 15 e sou a mãe. Engravidei com 13 anos”, conta uma jovem.
Maria Clara é uma essa sertanejinha do sertão de Pernambuco. Nasceu com pouco peso e veio
com intestino delgado exposto. Por isso, ela precisou ser operada assim que
nasceu. Mas daqueles dias ela ficou só com uma marquinha perto do umbiguinho
dela. Como boa parte das crianças do sertão, Maria Clara nasceu de mãe ainda
menina. É Cristocilia Ribeiro, que tinha 14 anos na época. Hoje quem cuida das
duas meninas é a avó Marisa.
Depois da cirurgia Clarinha logo se recuperou, mas os problemas
não terminaram. Quando tinha 6 meses, passou a ter convulsões. Era epilepsia.
“Era convulsão de três ou quatro vezes ao dia. Tomando os remédios, pararam as
convulsões”, conta a mãe de Maria Clara.
Na casa da família de Clarinha, a vida segue. Na UTI do hospital
público de Petrolina, muitas mães, quase meninas, esperam boas notícias: que os
filhos consigam enfrentar tão dura travessia para permanecer neste mundo.
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